

Na quinta edição do JOURNAL da TRIMALHAS, destacamos o departamento de acabamentos e controlo de qualidade, duas áreas cruciais para a operação da nossa empresa. É no laboratório que testamos todas as nossas malhas para que estas respondam aos requisitos dos nossos clientes e mantenham a qualidade e a longevidade das malhas que idealizamos e produzimos.
Nesta edição, entrevistamos as engenheiras Mércia Mendes e Gabriela Cunha, que partilham o seu dia a dia na área do controlo de qualidade e explicam como enfrentam e resolvem as não conformidades que surgem ao longo do processo de produção das nossas malhas.
LAB INTERVIEW
E: Qual é a vossa formação e como começaram a trabalhar na área de acabamentos/qualidade?
G.C: A minha formação é em Engenharia Têxtil, e tenho um percurso de 26 anos na área das malhas, durante o qual fui acumulando experiência em diversos setores do ramo. Iniciei a minha carreira com um estágio numa tecelagem, onde fiquei vinculada durante 5 anos como responsável pelo departamento de qualidade. Esses primeiros anos foram extremamente enriquecedores e marcaram definitivamente o meu percurso na área das malhas circulares. Esta função exigia também um contacto direto com tinturarias, o que me permitiu aprofundar o conhecimento sobre os processos de tingimento e acabamento. Posteriormente, trabalhei durante 16 anos numa confeção, onde fui responsável pelas compras de malhas, tanto as que saíam do tear como as relacionadas com os processos de tinturaria e acabamento. Esta nova função deu-me uma visão mais abrangente das necessidades e desafios da etapa final da cadeia têxtil. Além disso, abracei um projeto durante 3 anos numa tinturaria e estamparia, o que me proporcionou uma aprendizagem mais aprofundada sobre os processos de acabamento, incluíndo estamparia convencional e digital. Há cerca de 2 anos, aceitei o desafio de integrar a equipa da TRIMALHAS na área de acabamentos/qualidade. Tem sido uma experiência bastante desafiadora, tanto pela qualidade e diversidade dos produtos, como pelo elevado grau de excelência exigido pelos clientes.
M.M: Tal como a Eng.ª Gabriela, sou formada em Engenharia Têxtil pela Universidade do Minho.
Após concluir o curso, realizei um estágio numa empresa do setor têxtil (malhas seamless), especificamente na área de planeamento da produção, onde trabalhei durante os primeiros 12 anos da minha carreira profissional. Com o aumento das exigências dos clientes em relação à qualidade dos artigos, comecei a acumular responsabilidades para além do planeamento, passando também a tratar de não conformidades. Este desafio permitiu-me adquirir um conhecimento mais aprofundado sobre os problemas e defeitos mais comuns nas malhas, bem como as formas de os prevenir e corrigir, desde a sua origem (tecelagem) até ao acabamento. Há quatro anos, surgiu a oportunidade de integrar a equipa da TRIMALHAS, onde atualmente trabalho exclusivamente focada na qualidade das malhas após o acabamento. Nesta função, realizo testes, analiso os resultados obtidos e comparo-os com as exigências dos clientes, garantindo que os produtos correspondem aos padrões de excelência estabelecidos.
G.C: Sem dúvida, a maior aprendizagem é conhecer profundamente todas as etapas do processo têxtil. É essencial compreender a cadeia de produção desde o início até ao fim, que inclui fiação, tecelagem, tinturaria, acabamento e confeção. Além disso, é crucial ter uma clara consciência das exigências, necessidades e dificuldades dos nossos clientes. O conhecimento do processo produtivo em todo o seu conjunto é uma mais-valia para superar obstáculos e propor soluções eficazes. Contudo, o conhecimento nunca se esgota — é um processo contínuo. Temos de estar sempre abertos e de forma constante a novas aprendizagens e inovações. Há um ditado que resume bem esta realidade no setor têxtil: “Aprender até morrer e morrer sem saber”.
E: Como é realizado o controlo de qualidade após o processo de acabamento das malhas?
M.M: Para realizar o controlo de qualidade das malhas, é fundamental obter o máximo de informação possível do cliente sobre a finalidade do produto. Para isso, cada cliente deve fornecer o respetivo caderno de encargos, onde são indicados todos os parâmetros que considera importantes para análise. No processo de controlo de qualidade, os aspetos mais relevantes a avaliar incluem:
- Estabilidade dimensional, em que comportamento da malha após lavagem doméstica, é avaliado de forma a perceber as suas alterações em termos de largura e comprimento;
- Espiralidade, onde se analisa a tendência para torcer, esta característica é muito comum em malhas produzidas em teares circulares;
- Solidez dos tintos, em que fazemos uma avaliação do manchamento e da alteração das cores;
- Toque e aparência, neste ponto é importante perceber se o produto responde a todas as características exigidas pelo cliente;
- Tendência para formação de borboto (teste de pilling).
Estes são os testes que realizamos internamente, assegurando que entregamos aos nossos clientes malhas com a qualidade esperada. Posteriormente, caso o cliente solicite, elaboramos um relatório de qualidade, onde descrevemos os testes efetuados e apresentamos os respetivos resultados. Paralelamente, a malha passa por um processo de revista, no qual um colaborador verifica e quantifica possíveis defeitos, tanto ao nível da tricotagem como do acabamento.
Além disso, há testes adicionais que, embora não sejam realizados internamente, podem ser exigidos pelos clientes no caderno de encargos. Nestes casos, recorremos a laboratórios externos especializados para a realização desses ensaios.
E: Quais são os maiores desafios enfrentados no processo de acabamento e controle de qualidade?
G.C: O maior desafio é entregar as malhas dentro dos prazos cada vez mais curtos, sem comprometer a qualidade exigida e mantendo o controlo de qualidade rigoroso!
M.M: Para que o controlo de qualidade de uma malha seja devidamente executado, antes de qualquer teste, esta deve ser sujeita a um relaxamento em plano, num ambiente controlado de temperatura e humidade, durante pelo menos 4 horas, de forma a estabilizar. Só depois desse processo concluído, são iniciados os testes anteriormente referenciados. O processo de lavagem demora entre 45 a 60 minutos, a secagem em máquina são mais 45 minutos, mas a maior parte das malhas secam ao ar e, este processo, fica concluído apenas no dia seguinte. Se for detetado algum problema e for necessário corrigir, é importante agir rapidamente para não comprometer a data de entrega ao cliente.
G.C: Hoje em dia, não há tempo para que as coisas corram mal. A indústria têxtil envolve um processo de produção longo, com muitas variáveis a influenciar o produto final. Começa na fibra, passa pela fiação, tricotagem, tinturaria e acabamento. São muitas fases, com intervenientes diferentes, o que pode causar ligeiras alterações no produto final. Por isso, é essencial contar com parceiros de confiança em cada uma dessas fases. Cada parceiro assume um projeto com base na sua especialização e know-how, o que nos permite fornecer produtos de qualidade, dentro dos prazos estabelecidos.
E: Há iniciativas para reduzir o impacto ambiental no setor de acabamentos? (Ex.: reaproveitamento de água, uso de produtos menos tóxicos, etc.)
G.C: Neste âmbito estão a ser feitas muitas iniciativas interessantes. Há o aproveitamento de águas, os Jets estão atualmente preparados para reagir a uma duração de banho menor, ou seja, menos água por kilo de malha para minimizar o consumo de água. Os próprios processos estão a evoluir para tingimentos a temperaturas mais baixas para gastar menos energia. No que toca a energia, acabamentos e tinturaria também há muito reaproveitamento a nível de râmolas. Este é um tema muito interessante e que tínhamos muito para falar, mas ficará para outra edição!
E: O que mais a motiva a continuar trabalhar na área de acabamentos/qualidade?
G.C: Na minha função, sou constantemente confrontada com vários problemas. Embora isso possa ser desgastante, é também extremamente gratificante descobrir a origem de um problema e apresentar soluções. É um desafio constante e há até uma espécie de adrenalina envolvida ao investigar um processo e identificar a causa do problema. Depois, é muito motivador apresentar soluções eficazes que permitam ir de encontro às necessidades dos clientes.
E: O que é que vocês consideram mais importante no perfil de um colaborador desta área?
G.C: Os profissionais desta área devem possuir um perfil dinâmico, com capacidade para lidar eficazmente com a pressão. É essencial demonstrar inteligência emocional, um espírito crítico constante e uma elevada resiliência, devido às exigências associadas a prazos apertados. Além disso, é fundamental ter um desejo contínuo de evolução, de forma a acompanhar as crescentes exigências do mercado.